É preciso não apenas empregar mais mulheres, mas conhecê-las de fato e suas diferenças. A luta das mulheres por uma posição mais igualitária na sociedade ferve e, com esse movimento, conceitos como “sororidade” e “dororidade” vêm à tona. Mas você sabe o que é dororidade e o que sororidade quer dizer?

Sororidade é o nome dado ao pensamento de união entre as mulheres, sem julgamento prévio, baseado na empatia e companheirismo a fim de alcançar objetivos em comum. 

Dororidade, por sua vez, se baseia no mesmo objetivo, porém se direciona às mulheres negras e à luta particular que elas enfrentam. Nesse caso, a luta não se dá por somente ser mulher, mas por ser mulher negra, fato assustadoramente perigoso no Brasil, uma vez que o Mapa da Violência mostrou que, enquanto o homicídio de mulheres negras experimentou um crescimento de 54,2% num período de dez anos, o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8% no mesmo período. 

O que pode ser feito para que se tenha um olhar mais sensível a mulher negra? Como enquadrar esse debate – não só de gênero, mas de cor; e não só de cor, mas de gênero – dentro das discussões feministas para abordar, entender e saber lidar com isso? A dororidade, conceito criado pela escritora Vilma Piedade, vem para dar voz e forma a essas questões.

A imagem é uma foto da escritora Vilma Piedade, sentada em uma mesa de autógrafos no lançamento do seu livro "Dororidade".
A militante feminista Vilma Piedade, autora do conceito Dororidade, que ela explica no livro Dororidade, publicado pela Nós Editora em 2017 | Créditos: Aline Macedo.

Porque precisamos falar sobre dororidade

É necessário, quando se fala de feminismo, levar em consideração o que se chama de interseccionalidade – o conhecimento das diferentes dimensões dentro do mesmo movimento; e no caso da dororidade, a dimensão racial. 

Em seu livro “Dororidade”, a criadora do termo, Vilma Piedade, pós-graduada em Ciência da Literatura pela UFRJ, integrante da organização feminista PartidA Rio e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e como ela mesma resume “mulher preta, brasileira e feminista”, o conceito complementa o de “sororidade”, trazendo o recorte da mulher negra e sua importância para a discussão. 

“Acho importante que nós tenhamos um espaço para falar e que seja uma fala que agregue no coletivo. Eu só quero todos os tons de preto dentro do feminismo.”, diz Vilma Piedade.

A imagem é uma ilustração que mostram 3 desenhos de mulheres negras.

Essa visão sobre o feminismo negro é bastante relevante visto a posição que mulheres negras ocupam na sociedade. No Brasil, o racismo e a questão de gênero são os elementos que moldam a pirâmide social. Dados mostram como a mulher negra se encontra na base dessa pirâmide, abaixo tanto dos homens (sejam eles brancos ou negros) como das mulheres brancas.

Em comparação com uma mulher branca, a mulher negra tem três vezes mais chances de ser vítima do feminicídio, segundo dados do Fundo Elas; além de compôr cerca de 1,5 milhão das 2,4 milhões de mulheres que sofrem com a violência doméstica por ano no Brasil, ou seja, as mulheres negras são quase 63% dessas vítimas. 

Como mostra o PretaLab, de acordo com a pesquisa “Estatísticas de gênero”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo é 2,3 vezes maior do que o de mulheres negras. E apenas 10,4% das mulheres negras têm ensino superior completo.

Na saúde

Na saúde, de acordo com a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, levando em conta os atendimentos do SUS, cerca de 41% das mulheres negras com mais de 40 anos nunca fizeram um exame de mamografia, junto com os mais de 18% das que nunca fizeram exame de colo de útero. Esses dados mostram o quão vulnerável está a mulher negra, se não for olhada com mais atenção, além de mostrar também a evidente importância de sua voz diante dos movimentos feministas.

“O feminismo negro não é um recorte, muito pelo contrário, a gente que pensa feminismo precisa pensar essencialmente por uma perspectiva de classe e de raça. O feminismo negro não exclui, amplia” – Djamila Ribeiro

No trabalho

A discrepância trabalhista também é visível nesse cenário, uma vez que a mulher negra – em comparação com a branca – é a que ocupa a maior parte dos trabalhos informais; além da diferença salarial entre brancos e negros que é gigantesca, com a parcela branca ganhando 72,5% a mais do que os negros, segundos dados do IBGE. Agora imagine essa discrepância salarial não só no âmbito racial, mas também quando se fala de questões de gênero: or mais que trabalhem mais do que os homens, as mulheres ainda ganham 25% a menos do que eles. 

Por questões como essas, a luta do feminismo negro – e a afirmação da dororidade – se mostram tão necessárias num embate contra duas forças hegemônicas: o racismo e machismo. O movimento não se constrói como segregação, mas sim pela pluralidade das lutas e demandas, levando em consideração as diferentes realidades de mulheres.

“Com a força e o poder das mulheres negras desta região, nós resistiremos” – Angela Davis

A imagem mostra um gráfico da "Hierarquia racial", comparando a realidade de mulheres negras e brancas: enquanto a taxa de desocupação de mulheres negras é 12,4%, a de mulheres brancas é de 6,7%; enquanto a renda média das mulheres negras é de R$544,40, a de mulheres brancas é de R$957; enquanto a taxa de participação de mulheres negras entre 25 e 29 anos no mercado de trabalho é de 70,8%, a de mulheres brancas é de 76,7%; no que diz respeito a escolaridade, apenas 10% das mulheres negras possuem ensino superior, enquanto o de mulheres brancas sobe para 24%.

O que as empresas podem fazer diante disso?

Destacamos algumas empresas que tem se posicionado mediante esse fato e quais tipos de ações são precisas para contribuir positivamente com esse quadro.

É preciso entender que pelo fato da maior parte das pessoas ricas do país serem homens brancos, são eles também os principais donos das empresas, e com esse comando, as empresas podem acabar perdendo um pouco do olhar sobre a diversidade. Por isso as ações e eventos para promover a ascensão da mulher negra ao mercado de trabalho são tão importantes. 

Uma pesquisa feita pela Working Mother Media e publicada pela Forbes mostrou companhias norte-americanas que mais contrataram mulheres negras, e em 2016 ofereceram cerca de 500 novos empregos, contribuindo para a relevância dessas mulheres no mercado de trabalho, uma vez que elas ocupam 17% dos 50 cargos que mais ganham nessas companhias.

De acordo com o estudo, 96% dessas empresas encarregaram uma pessoa ou até mesmo um time para promover a inclusão. Dentre elas, a IBM, P&G e Verizon são algumas das que se destacam pelos esforços em colocar mulheres negras em cargos bons; porém nem todos os resultados são positivos. A porcentagem dessas mulheres em cargos de liderança, por exemplo, ficou estagnado em 14% das gerências e 4% das diretorias.

Aqui no Brasil

O Brasil também vem galgando a pequenos passos nessa luta pela igualdade. Uma pesquisa feita pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) mostrou que entre os anos de 2013 e 2014, a mulher negra tem se distanciado dos empregos que eram tidos como “para ela” e alcançado novos postos na organização social, como mostra o gráfico abaixo.

A imagem mostra um gráfico da "A mulher negra no mercado de trabalho" de 2013 a 2014. Disponível em: https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/economia/2015/11/renda-da-mulher-negra-sobe-para-562-da-renda-de-homem-nao-negro-aponta-estudo/
Imagem retirada do site: https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/economia/2015/11/renda-da-mulher-negra-sobe-para-562-da-renda-de-homem-nao-negro-aponta-estudo/

Empresas vêm investindo em processos seletivos intencionais, ou seja, direcionados para uma parcela específica da população, com naturezas intencionais, como aumentar a diversidade nos times. A Aerolito, empresa de futurismo, em junho de 2020 abriu um processo seletivo para a contratação exclusiva de mulheres negras.

Algumas iniciativas vêm trabalhando para que mulheres negras sejam inseridas no mercado de trabalho e contribuindo para a mudança, em conjunto, da realidade de gênero e racial no país. Algumas delas:

  • Indique uma preta: consultoria de conexões entre mulheres negras e o mercado de trabalho. 
  • PretaLab: iniciativa para inclusão de mulheres negras na área de tecnologia e inovação. 
  • Criola: organização da sociedade civil com mais de 25 anos de trajetória na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras.
  • Minas Programam: iniciativa que promove oportunidades de aprendizado sobre programação para meninas e mulheres, priorizando negras ou indígenas.
  • Pretahub: hub de criatividade, inventividade e tendências pretas.
  • Ux Para Minas Pretas: iniciativa para introduzir as mulheres negras em UX Design, gerar mais acesso, estimular a empregabilidade e promover o compartilhamento de conhecimento e articulação em rede.

Neste outro texto no nosso blog, nós separamos alguns materiais, iniciativas e pessoas importantes que lutam para combater o racismo para você acompanhar: Olhe para dentro: como ser um aliado na luta antirracista.

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