Segundo dados divulgados pelo Google Trends, nos últimos 30 dias o conceito de meritocracia foi pesquisado mais de 1.800 vezes no Brasil. Ou seja, a pergunta “o que é meritocracia?” foi respondida pelo Google cerca de 60 vezes por dia. 

O que esse dado comprova é que o termo, agora tão evidente, ainda é pouco conhecido por uma relevante parcela da população. E você, sabe o que é meritocracia?

Meritocracia significa, literalmente, o governo dos melhores (“merito”, melhores; “cracia”, governo), ou seja, é a associação direta do mérito com o poder, um sistema social que prega que se deve conseguir algo baseado no esforço pessoal; o famoso “fazer por merecer”. Tanto se fala sobre, tanto se discute o assunto, que é necessário entendê-lo por completo e saber lidar com os conflitos que essa ideia de fazer por merecer pode trazer. 

E quando não dá pra fazer? Não se pode merecer? O que fazer quando esses questionamentos tomam formas no ambiente de trabalho?

O que é meritocracia

Aqui é importante trazer um pouco de história para dar contexto. Assim que Napoleão Bonaparte assumiu o governo francês, em 1804, ele decretou que a origem do nascimento não contaria mais para o ingresso nas carreiras públicas. A partir daquele momento, não mais importava se a pessoa tivesse vindo de família nobre ou burguesa; todos deveriam ascender socialmente através do próprio esforço. 

A partir desse ideal, resgatado na Modernidade, a ideia de meritocracia começou a se formar até servir de base de algumas sociedades – como a norte americana, por exemplo, que tem no imaginário nacional a ideia do self-made man (o homem que faz a si mesmo apenas com seu próprio empenho).

A imagem é uma foto da escultura da artista Bobbie Carlyle, que descreve o self-made man, um homem lapidando a si mesmo para fora da pedra bruta.
Escultura da artista Bobbie Carlyle, que descreve o self-made man, um homem lapidando a si mesmo para fora da pedra bruta.

Robert Frank, colunista do The New York Times, descreve em seu livro como ricos e grandes heróis capitalistas, imortalizados pela imagem do self-made man, subestimam completamente a importância da sorte como um fator de sucesso. Não é só uma questão de talento e dedicação, é também sobre ter mais ou menos vantagens já no ponto de partida; e nem todos começam do mesmo ponto. 

De acordo com o filósofo e escritor estadunidense Sandel Michel, “a meritocracia é como uma corrida de obstáculos onde todos os competidores saem de uma mesma linha de partida, enfrentando obstáculos semelhantes sob condições de tempo e treinamento iguais. A sua colocação no final da corrida dependerá única e exclusivamente de seu próprio esforço e capacidade”. 

Essa parece, de início, uma excelente ideia, já que trata todos da mesma maneira, porém o conceito de meritocracia só pode ser válido quando todos os indivíduos de uma sociedade possuem exatamente as mesmas condições sociais, econômicas e psicológicas; o que não é realidade no nosso país. De acordo com um levantamento feito pela ONU em 2017, vivemos um acréscimo de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria. 

Então, será que o conceito de meritocracia, impulsionado por Bonaparte no século XIX e nomeado pelo sociólogo Michael Young há mais de 60 anos, ainda faz sentido no Brasil de hoje? 

Precisamos refletir sobre privilégios

Não é à toa que as empresas andam questionando o ideal de meritocracia, já que por mais ele venha para igualar as pessoas, pode atenuar ainda mais a falta de diversidade no ambiente de trabalho. 

Se formos levar em consideração a análise de um currículo para um vaga hipotética, por exemplo, que exige ensino superior, idioma estrangeiro e experiência no mercado de trabalho para contratar um funcionário, teremos alguns problemas em relação a diversidade nessa empresa. A começar pela experiência no mercado, já que um dado divulgado pela ONU Mulheres destacou que a maior parte das mulheres trabalha na informalidade e com escassa proteção de direitos, ou seja, a experiência que elas têm não é contada para essa hipotética vaga. 

Outra questão é a passagem pelo ensino superior, uma vez que os negros, por exemplo, são apenas 34% dos universitários brasileiros, de acordo com a UFJF. E esses são só alguns exemplos de como essa ideia de “fazer por merecer” pode ser falha. 

A grande questão aqui não é eliminar esses requisitos para contratar alguém, mas compreender, antes de tudo, a sociedade em que a empresa está inserida, além de traçar um perfil cada vez mais exato de seus funcionários. 

Afinal, os privilégios de cada pessoa variam de acordo com suas origens, vivências, experiências e oportunidades que teve ou não durante a vida. Você já ouviu falar no Jogo dos Privilégios?

Cada uma das perguntas feitas mostra como nós, pelo simples fato termos nascido em um determinado contexto social, país, classe, raça, ou pertencer a um grupo social marginalizado, temos diferentes privilégios ao longo da nossa vida.

A discussão sobre privilégios nos faz debater profundamente meritocracia. E essa reflexão precisa fazer parte da nossa jornada rumo à um olhar mais diverso e inclusivo, seja na nossa vida pessoal ou profissional. Grandes empresas como o Google ou o Starbucks, que investem milhões em diversidade, ainda enfrentam grandes problemas nessa área. Não existe uma receita milagrosa já que essa ideia de meritocracia povoa nosso imaginário há anos, mas há caminhos que podem ser tomados para criar uma empresa mais consciente. 

Como vencer a meritocracia?

Você pode estar pensando que ações para a conscientização acerca de uma ideia tão enraizada, pode custar milhões – como para o Google ou para o Starbucks -, mas nós separamos aqui duas empresas que adotaram medidas simples e que causaram um impacto positivo na sociedade onde estão inseridas: a White Martins e a Votorantim Cimentos.

A primeira adotou uma medida curiosa, mas eficaz: retirou o inglês como critério de contratação e, além disso, mantem dez vagas adicionais de estágio para jovens universitários afrodescendentes. As vagas adicionais são aquelas estipuladas além do programa de estágio da companhia. Em entrevista ao jornal O Globo, Cristina Fernandes, diretora de talentos e comunicação da White Martins disse:

“Quando começamos a fazer esforços neste sentido, vimos que sempre esbarrávamos no inglês. A prova de estágio tem sete etapas de seleção e entendemos que teríamos que flexibilizar o conhecimento da língua, que é primordial já que a empresa é americana”. 

Já a segunda empresa, a Votorantim Cimentos, marcou seu nome ao retirar o requisito de faculdade para contratação; não importa se a universidade for pública ou particular, o currículo é aceito.

Esses são só alguns exemplos de medidas tomadas para tornar esses processos seletivos mais abertos, entendendo a vivência de cada um. Medidas assim exercem a equidade ao invés de apenas pregar a igualdade

A equidade, conceito extremamente importante dentro deste debate, se refere a uma busca pela igualdade tendo como base que nem todos partem do mesmo ponto, ou seja, as oportunidades são distribuídas com esse pensamento em mente.

A imagem descreve a diferença entre igualdade e equidade. Enquanto em um cenário de Igualdade todos os tipos de pessoas usam a mesma bicicleta (uma bicicleta igual) e não conseguem se adaptar por terem corpos diferentes, no cenário de Equidade a bicicleta é adaptada para cada tipo de pessoa - criança, adulto, pessoa com deficiência física.

As medidas a serem tomadas para se criar um ambiente mais igualitário e respeitoso nunca são fixas, há estratégias que funcionam melhor para determinados perfis de empresa e quadro de funcionários, por isso, é preciso encontrar as medidas que funcionam no macro ou micro-universo. 

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