O termo interseccionalidade vem ganhando cada vez mais notoriedade dentre as discussões de diversidade e inclusão, mas você sabe de onde surgiu e por que é tão importante entender mais sobre o tema?
Resumidamente, trata-se de um conceito que nos permite entender como diferentes formas de opressão, como raça, gênero, orientação sexual, capacidade, marcadores econômicos e muitas outras características, se relacionam e se sobrepõem, afetando grupos marginalizados de maneira única e complexa.
Ou seja, possibilita compreender que as nossas vivências são múltiplas e não há uma separação entre elas.
Com as crescentes ações de D&I, recomendações de boas práticas de ESG e uma série de discussões emergentes da sociedade, o tema passou a crescer também no mercado de trabalho, especialmente dentro das empresas que passaram a criar projetos de equidade racial, social, dentre outros marcadores, e desenvolveram uma abordagem interseccional para criar planejamentos e políticas internas mais efetivas.

Introdução ao conceito de interseccionalidade e seu papel na luta por inclusão
Os primeiros debates sobre interseccionalidade começaram entre 1970 e 1980, durante o período das lutas sociais e teorizações dos movimentos feministas negros nos Estados Unidos e no Reino Unido.
O movimento Black Feminism foi um dos precursores no desenvolvimento de teorias feministas, além da produção de uma série de pesquisas e artigos acadêmicos, e com essa maior participação de mulheres negras nas universidades, culminou também no avanço sociológico de pensadoras negras da época.
E foi durante esse contexto, que a professora negra e norte-americana Kimberlé Crenshaw popularizou o termo sobre o que é interseccionalidade. Em 1989, ela leu um caso judicial de uma trabalhadora chamada Emma, que acusou uma empresa de tê-la discriminado pelo fato dela ser uma mulher negra. Mas a petição na justiça acabou sendo ignorada, porque separaram os casos entre machismo e racismo, sem conseguir coletar insumos suficientes para processá-los de forma separada.
Kimberlé argumentou que as teorias feministas e de direitos civis tradicionais não conseguiam capturar a maneira única como as mulheres negras eram oprimidas devido à combinação de sua raça e gênero, e a partir de então, iniciou diversas iniciativas e pesquisas para entender melhor como essas dimensões acabavam se sobrepondo, culminando no conceito que conhecemos atualmente.
Confira este vídeo com a participação da pesquisadora no TEDWomen 2016:
Como a interseccionalidade nos permite entender as múltiplas formas de opressão
A interseccionalidade permite que vejamos como as diferentes formas de opressão não são isoladas, mas se interconectam e se reforçam mutuamente. Diferenciar essas nuances permite compreender e abordar a discriminação em sua totalidade, em vez de tratá-la de forma fragmentada.
Exemplos de como o conceito afeta grupos marginalizados podem ser encontrados em quase todas as áreas da vida, desde a saúde até a economia. Podemos citar, neste caso, um exemplo sobre acesso à saúde. Quando falamos de pessoas racializadas e de baixa renda, este grupo de pessoas pode enfrentar barreiras significativas para acessar esse recurso, incluindo falta de seguro médico, falta de acesso a cuidados preventivos e escassez de serviços de saúde de qualidade em suas comunidades.
Essas barreiras são ainda mais agravadas pelo fato de que essas pessoas também podem enfrentar discriminação e estigmas baseado em sua raça e renda, o que pode tornar mais difícil para elas buscarem e obterem ajuda médica quando precisam.
Portanto, entender o que é interseccionalidade nos permite ver como a opressão não é simplesmente uma questão a ser afetada por uma única categoria, como raça ou gênero, mas sim como várias características se sobrepõem e se relacionam para criar experiências únicas de discriminação e privilégio. Por exemplo, uma pessoa negra trans não é simplesmente afetada pela discriminação baseada em raça e gênero, mas também pela discriminação baseada em orientação de gênero.
De maneira similar, uma pessoa com deficiência que também é negra e mulher enfrenta uma combinação única de opressões. Entender como essas características se relacionam é crucial para abordar a discriminação de maneira holística, especialmente quando as empresas estão interessadas em desenvolver projetos de diversidade, inclusão e pertencimento.
Por que é importante incluir essa perspectiva na luta por inclusão dentro das empresas?
Incluir essa perspectiva é fundamental para garantir que a luta por inclusão seja realmente eficaz. Isso significa reconhecer e abordar as múltiplas formas de opressão que afetam grupos marginalizados, em vez de tratá-las de forma fragmentada, possibilitando incluir a voz e liderança dessas comunidades, e não falar por elas ou sobre elas.
Além disso, entender o que é interseccionalidade nos ajuda a desenvolver soluções que sejam realmente inclusivas e que beneficiem todos os grupos marginalizados, em vez de beneficiar apenas alguns.
É fundamental que as empresas firmem esse compromisso em busca de oferecer espaços psicologicamente seguros, com oportunidades que abarquem as necessidades dos diferentes perfis das pessoas que compõem o quadro de funcionários.
Pensar em uma ótica interseccional, possibilita entender as diferentes nuances de vivências, encarreiramento e formas de valorização das diversas origens e histórias dentro desses espaços, principalmente quando olhamos para os dados da população brasileira:
- Cerca de 56% da população do país se considera negra (pretos e pardos)
- Pelo menos 9% da população se declara LGTQIAP+
- Existem cerca de 17,2 milhões de PcDs no país
- Segundo o IBGE, até 2060, podemos chegar a mais de 70 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil
Quando vemos a proporção da diversidade no âmbito social, é importante ressaltar o quanto os espaços de oportunidade — e de poder — não são ocupados por pessoas desse grupo que representam grande parte da população.
- 705 mil homens brancos têm renda maior que a de todas as 33 milhões de mulheres negras do Brasil
- 4 em cada 10 pessoas LGBTQIAP+ relatam ter sofrido discriminação no ambiente de trabalho
- Somente 4% das pessoas transexuais possuem emprego formal enquanto 6% possuem emprego informal
- 7 em cada 10 pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho e o salário médio dessa população é R$ 1 mil menor
- 70% dos profissionais acima de 40 anos já sofreram preconceito etário.
É bem comum que pessoas construam vieses inconscientes em relação às características de outros, sejam a respeito da identidade de gênero, raça, orientação sexual, deficiência, origem, religião, dentre outros.
Um viés nada mais é do que uma forma tendenciosa de pensar, um preconceito, estereótipo ou até mesmo pensamento tendencioso, seja ele contra ou a favor, sobre determinado grupo de pessoas, temas, ou discussões que pode gerar comportamentos prejudiciais.
Como, por exemplo, crenças enraizadas como “as mulheres não chegam à alta liderança porque deixam a empresa para ter filhos”, “pessoas com deficiência não são competentes”, ou “negros não têm o mesmo conhecimento que pessoas brancas” ou “jovens da geração Y não tem compromisso com a empresa”.
Trabalhar para mitigar os vieses é uma ação essencial para criar uma cultura inclusiva e que coloque, verdadeiramente, a diversidade em prática.
A Blend Edu é uma startup especialista em inovação para a diversidade e inclusão, que atua por meio de pilares de treinamento, ações de sensibilização e letramento, workshops, dentre outros projetos personalizados para a realidade de cada empresa.
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