É bem possível que você já tenha se deparado com a palavra “capacitismo”, mas na prática, o que esse conceito representa?

Grupos minoritários – ou minorizados – são caracterizados como segmentos sociais, étnicos, de gênero, dentre outros, que independentemente da quantidade, possuem uma baixa representação política, social, econômica, ou seja, pessoas com determinados marcadores sociais, sofrem de determinados tipos de preconceito por fazerem parte desses grupos.

Como, por exemplo, mulheres sofrem em relação ao machismo, sexismo e misoginia, pessoas negras lidam diariamente com o racismo, enquanto pessoas da comunidade LGBTQIA+ lidam com homofobia, transfobia, entre outras formas de discriminação de gênero. Portanto, o conceito de capacitismo segue a mesma lógica quando falamos de pessoas com deficiência.

Neste texto, vamos explicar mais a fundo sobre o conceito, termos e expressões para tirar do vocabulário, além de formas práticas de como sua empresa pode apoiar a luta anticapacitista. Confira!

Leia: Sororidade nas empresas: 4 dicas de como ir além do discurso e realmente construir ambientes inclusivos.

Capacitismo: o que é e de onde surgiu esse termo?

Capacitismo refere-se à violência ou discriminação praticada contra a pessoa com deficiência, caracterizando-a como incapaz ou inapta para executar as atividades. Ou seja, trata-se do preconceito que tem como base a “capacidade” de pessoas desse grupo, sendo muitas vezes vistos como inferiores.

Esse termo surgiu pautado na construção social de que existe um corpo padrão, que seria o corpo sem deficiência, denominado como “normal”.

Diversas pessoas com deficiência que atuam como criadores de conteúdo, ativistas e demais aliados à luta em prol dos direitos de pessoas com deficiência, vêm levantando debates sobre a importância da conscientização do conceito de capacitismo.

Muitas dessas pessoas trazem materiais e informações de conscientização sobre o tema, com dicas práticas de como lutar contra essa forma de preconceito. Como, por exemplo, repensar palavras e expressões da Língua Portuguesa que ridicularizam pessoas com deficiência.

Termos como: retardado, mongoloide, frases pejorativas como “não precisa gritar, não sou surdo!” ou “não me viu? Tá ficando cego?”, são alguns desses exemplos.

O conceito também se estende para situações cotidianas, em que ao ajudar, interagir ou se relacionar com uma pessoa com deficiência não é um ato de heroísmo ou algo que se caracteriza como uma “boa ação”, mas algo que todas as pessoas deveriam fazer.

Como minha empresa pode apoiar a luta anticapacitista?

Sabia que existem, em média, mais de 12,5 milhões de pessoas com deficiência no Brasil? Esse número representa cerca de 6% da população, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE, porém, menos de 1% do total de empregos formais são ocupados por pessoas desse grupo minorizado.

Apesar de existir a Lei de Cotas no Brasil, criada em 1991 com foco na inclusão no mercado de trabalho e a LBI (Lei Brasileira de Inclusão) de 2015, que reforça a acessibilidade como direito fundamental, o desconhecimento, falta de debate sobre o tema somados ao capacitismo, levam ao descumprimento da legislação que garante tais direitos para esta população.

Saiba mais: Lei de Cotas: você realmente conhece a legislação para inclusão de pessoas com deficiência?

Uma pesquisa realizada pelo DataSenado ressalta o importante trabalho que ainda deve ser realizado socialmente sobre a questão de inclusão e conscientização. Ao entrevistar mais de mil pessoas com deficiência, 80% avaliam que não têm seus direitos respeitados no país.

Pensando em como as empresas podem se tornar ainda mais diversas e inclusivas, separamos algumas dicas essenciais para tornar a organização um ambiente psicologicamente seguro e acessível para pessoas com deficiência. Confira:

1. Promova ações de conscientização: um dos primeiros passos para a criação de ambientes inclusivos, é treinar e sensibilizar a equipe de toda a organização para receber e integrar novas pessoas ao time. Para garantir a representação de pessoas com deficiência no mercado, e ao mesmo tempo garantir a empregabilidade, além da contratação, as empresas devem implementar ações que incentivem e lidem com as problemáticas diárias dessa população.

2. Invista na capacitação das lideranças: outra ação que caminha lado a lado com a conscientização da equipe, é a de investir em treinamentos para a liderança, principalmente em como evitar vieses inconscientes focados em deficiências, como promover um ambiente acessível e também de desenvolver uma linguagem inclusiva (mesmo para áreas que não tenham profissionais com deficiência).

3. Faça um mapeamento da acessibilidade: saber fomentar uma cultura inclusiva, vai além de trabalhar as relações interpessoais, também é preciso se atentar às possíveis adaptações no ambiente físico – e digital. Portanto, é essencial que a empresa faça um mapeamento de acessibilidade, para identificar as barreiras, os pontos que não permitem passagem, dificuldades de acesso e de ferramentas de trabalho usadas no dia a dia que podem ser excludentes, como, por exemplo, reuniões em vídeochamada de câmera fechada.

4. Estimule a formação de grupos: busque criar espaços seguros de compartilhamento de experiências entre pessoas com deficiência e demais funcionários que desejam conhecer e apoiar o grupo. A criação de grupos de afinidade também é uma ação que contribui para essa construção do senso de pertencimento entre as pessoas que fazem parte da empresa.

5. Invista em planos de carreira e políticas de valorização profissional: não foque apenas na Lei de Cotas para cumprir a legislação, busque criar normas e projetos de desenvolvimento e valorização profissional. Um exemplo disso é adotar a prática do Emprego Apoiado (ou Emprego Assistido), metodologia utilizada em diversos países, desde a década de 1980 que possibilita a inclusão de pessoas com deficiência no mercado, de forma consciente.

Charge do cartunista Ricardo Ferraz em que faz críticas ao capacitismo. A imagem retrata um homem que diz "cumpri a lei de cotas, agora mostre sua eficiência", enquanto atrás está um funcionário cadeirante perante uma escada, gesticulando que não é possível circular na área.
Charge do cartunista Ricardo Ferraz/Reprodução

Expressões capacitistas para tirar do vocabulário

Além das ações práticas que podem ser adotadas pela empresa, também existem formas de conscientizar e evitar a reprodução de termos e falas capacitistas. Confira algumas delas:

1. Falar “pessoa normal” para descrever alguém sem deficiência: usar essa expressão é extremamente inadequado, pois além de colocar a pessoa com deficiência como inferior, também a desumaniza. O correto é “pessoa sem deficiência”.

2. “Portador de deficiência”: o termo está em desuso e foi substituído por “pessoa com deficiência” pela ONU em 2008. A pessoa não porta sua deficiência, ela tem deficiência. 

3. “Pessoas com necessidades especiais (PNE)”: a expressão caiu em desuso pois nem sempre se aplica a uma pessoa com deficiência, e também por remeter à ideia de que PCDs devem ser tratados de forma diferente por “não possuírem a mesma capacidade”.

4. “Aquela pessoa tem deficiência mental” ou “doença mental”: os termos usados são, respectivamente, pessoa com deficiência intelectual e transtorno mental. Também não é correto falar algo como “retardado” ou “retardado mental”.

5. Você é um exemplo de superação, sempre que penso que minha vida está ruim, lembro de você” ou “Quando penso em reclamar, me lembro de você” ou “Não sei como você dá conta. Eu não aguentaria”: da mesma forma que não devemos subestimar, também não devemos superestimar as pessoas com deficiência, considerando-as exemplos por realizar as atividades do dia a dia. Inclusive, o TED Talk de Stella Young chamado “Eu não sou sua inspiração, muito obrigada” fala sobre esse assunto.

6. “Dar uma de joão sem braço”: além do caráter ofensivo, coloca a pessoa com deficiência em uma posição de oportunista, de quem usa sua condição física como desculpa para se eximir de alguma responsabilidade.

Confira outras expressões neste vídeo, com participação de Thalita Gelenske, fundadora e CEO da Blend Edu. O conteúdo é baseado no curso “Diversidade: 101”, material exclusivo da nossa plataforma Diversidade SA: primeira comunidade empresarial de aprendizagem do mercado focada em diversidade e inclusão.

Como a Blend Edu pode apoiar minha empresa na inclusão de pessoas com deficiência?

Somos uma startup com foco em inovação para diversidade e atuamos por meio de diversos pilares. Dentre as ações possíveis, além dos projetos de diagnóstico e consultoria estratégia, também oferecemos treinamentos sobre vieses inconscientes focados em deficiências, acessibilidade e linguagem inclusiva.

Além disso, por meio do nosso pilar de experiências sensoriais e imersivas, também construímos ações com o objetivo de despertar um comportamento mais empático e inclusivo na sua equipe.

Quer saber mais sobre como podemos ajudar sua empresa com os desafios atuais? Entre em contato com a gente pelo e-mail: contato@blend-edu.com ou preencha o formulário abaixo.