Você sabia que, de acordo com dados da pesquisa feita pela empresa CEGOS, em parceria com a CNN Brasil, 75% das empresas brasileiras apontam o racismo no ambiente de trabalho como a principal discriminação recorrente?

Reconhecer falas, ações e comportamentos que reforçam estereótipos racistas ainda é uma barreira encontrada por muitas pessoas negras, dado que, muitas vezes, tais ações vêm camufladas como um comentário negativo sobre o cabelo, cor da pele e até situações onde duvidam da capacidade intelectual de alguém por ser uma pessoa negra ou não cruzam com um homem retinto na rua por medo.

Os exemplos são inúmeros e os dados reforçam que ainda há um longo caminho pela frente para mudar esse cenário, especialmente nos ambientes corporativos.

De acordo com informações da pesquisa da plataforma Infojobs, 86% dos entrevistados acreditam que os preconceitos vivenciados na empresa, seja eles “velados” ou não, impedem seu crescimento profissional.

Portanto, é crucial que empresas estejam cada vez mais comprometidas com a luta antirracista e que criem espaços psicologicamente seguros e inclusivos. Nesse texto, trouxemos os principais conceitos, práticas que reproduzem o racismo e formas de combater dentro — e fora — da empresa. Confira!

Discriminação, injúria racial ou discurso de ódio?

Em meio há tantas terminologias que englobam o que é racismo e como ele se manifesta, antes de mais nada é importante entender a diferença entre cada um. Confira alguns dos principais termos:

Discriminação: é o conceito atribuído a uma ação prática de violação ao direito das pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como: raça, gênero, idade, crença, religião, nacionalidade etc. Ou seja, um tratamento ou ação preconceituosa dada a certas pessoas por pertencerem a determinadas categorias sociais.

Injúria racial: é um dos crimes contra a honra, junto com a calúnia e a difamação. É atribuir à alguém qualidade negativa, não importa se falsa ou verdadeira; diz respeito à honra subjetiva da pessoa. A injúria pode ser cometida de forma verbal, escrita ou até mesmo física e caracteriza-se quando o meio utilizado for considerado humilhante (por exemplo, um tapa no rosto).

Discurso de ódio: costuma ser definido como manifestações que atacam e incitam ódio contra determinados grupos sociais baseadas em raça, etnia, gênero, orientação sexual, religiosa ou origem nacional. A liberdade de expressão é um direito humano fundamental garantido pela Constituição Brasileira, mas ela termina ao colocar em risco a liberdade de outra pessoa, e esse é o caso do discurso de ódio. 

Diferentes formas que o racismo se manifesta

A discriminação racial pode se manifestar de diferentes formas, seja de maneira explícita ou velada, e pode ter consequências significativas na vida profissional e pessoal de pessoas afetadas por essas ações, falas e comportamentos cotidianamente. Entenda mais sobre suas ramificações.

  1. Racismo Institucional: é basicamente o tratamento diferenciado entre raças no interior de organizações, empresas, grupos, associações e instituições congêneres – segundo este artigo do Geledés.
  2. Racismo Estrutural: o conceito usado para explicar que a estrutura da sociedade é, essencialmente, racista, fazendo com que o racismo esteja presente nas nossas relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares. Em todas elas, pessoas brancas ocupam um espaço de poder, influência e de tomada de decisão em relação aos negros e indígenas.
  3. Racismo Ambiental: injustiças sociais e ambientais que atingem grupos étnicos mais vulneráveis e outras comunidades, discriminadas por sua ‘raça’, origem ou cor. O termo foi cunhado em 1981 pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., líder negro pelos direitos civis, a partir de suas investigações e pesquisas entre a relação de resíduos tóxicos e a população negra norte-americana. 
  4. Racismo Algorítmico: a forma como algoritmos, chatbots e mecanismos de busca são configurados e programados, podendo perpetuar premissas e condutas discriminatórias e reproduzindo associações estereotipadas e nocivas a respeito determinados grupos étnicos-raciais, além de possibilitar tratamentos diferenciados baseados em dados (ex: geolocalização).

    Leia mais em: Afinal, algoritmos são racistas?

Exemplos de termos e expressões racistas para tirar do vocabulário

Existem muitos termos e expressões racistas que são comuns no vocabulário cotidiano, e que muitas vezes são usados sem que as pessoas percebam o impacto negativo que podem causar. No ambiente de trabalho situações como essa também se repetem, e acabam influenciando na criação de uma cultura discriminatória com pessoas não-brancas, além de propiciar um ambiente psicologicamente inseguro.

Aqui estão alguns exemplos de termos e expressões racistas que devem ser evitados:

  • Negro de alma branca”: essa expressão é usada para se referir a pessoas negras que supostamente têm comportamento ou características que são associadas a pessoas brancas, como gostar de música clássica ou ter um bom nível de educação. Essa expressão é racista, pois sugere que pessoas negras não são capazes de ter essas características naturalmente.
  • Cabelo ruim“: essa expressão é usada para se referir ao cabelo crespo e cacheado de pessoas negras. Essa expressão é racista, pois sugere que esse tipo de cabelo é inferior ao cabelo liso, que é considerado “bom”.
  • Negro de alma leve“: essa expressão é usada para se referir a pessoas negras que supostamente têm um comportamento alegre e descontraído. Essa expressão é racista, pois sugere que pessoas negras são naturalmente alegres e descontraídas.
  • “Eu não vejo cor, vejo pessoas”: essa afirmação anula os valores culturais, expectativas e experiências de vida de pessoas não-brancas. Mesmo que um indivíduo branco ignorasse a “cor” de uma pessoa, a sociedade não o faz. Ao dizer que não enxerga “cor”, um indivíduo branco está também dizendo que não enxerga sua condição branca, negando, assim, seus próprios privilégios.
  • “Eu não sou racista porque tenho amigos ou companheiro(a) negro(a)”: essa afirmação presume que nossas associações pessoais nos livram magicamente de nosso condicionamento racista. Ou seja, que o nível de intimidade com culturas e pessoas não-brancas o torna antirracista. Isso não é verdade.
  • “Mas eu sou branco e eu também sofro racismo, me chamavam de ‘branquelo’ quando eu era pequeno(a) ”:  É fundamental refletir: ser uma pessoa branca costuma privar alguém de entrar em algum ambiente? Ser uma pessoa branca já fez alguém questionar a sua credibilidade intelectual? Racismo e preconceito são duas coisas completamente distintas. O racismo é um sistema de poderes que priva pessoas não-brancas de terem direitos iguais socialmente.

É importante lembrar que o racismo não se limita a essas expressões e termos, e que muitas vezes o preconceito está presente em gestos, olhares e atitudes que podem passar despercebidos. Por isso, é fundamental estar atento e buscar constantemente se educar sobre a diversidade e a inclusão.

Como combater o racismo no ambiente de trabalho

  1. Engajar as lideranças e demais pessoas em posições estratégicas: para criar uma empresa cada vez mais diversa e inclusiva, é necessário envolver não apenas uma área específica, e sim que o time todo abrace o desafio como parte do seu dia a dia na organização. Com uma liderança verdadeiramente engajada, o processo de implementação se torna algo transversal, impulsionando ainda mais o senso de pertencimento das pessoas da empresa.
  2. Letramento racial: oferecer treinamentos, ações consistentes de conscientização para os colaboradores sobre a importância de projetos de inclusão, além de fomentar o conhecimento sobre a pauta racial, especialmente para que cada mais pessoas compreendam como as relações raciais se refletem no dia a dia, seja dentro ou fora da empresa.
  3. Programas de empregabilidade: infelizmente, muitas empresas ainda têm práticas de recrutamento excludentes com candidatos de grupos minorizados, especialmente com pessoas negras. Isso pode acontecer por meio de requisitos de qualificação excessivos, por exemplo, como exigir inglês para uma vaga onde não seria tão necessário. Rever os processos seletivos, desde em quais meios estão sendo comunicados as oportunidades, se a divulgação é diversa e inclusiva até o momento da entrevista – e posteriormente com programas de retenção e desenvolvimento – é essencial para promover um projeto interseccional e empático.
  4. Criação de políticas antirracistas: expressões carregadas de estereótipos em tom de piadas, comentários ofensivos, falta de reconhecimento pelo trabalho realizado e isolamento social dentro da empresa, são apenas mais alguns exemplos de como o racismo se manifesta dentro das organizações. E essas atitudes podem ter consequências devastadoras para a autoestima e saúde mental de pessoas negras, portanto, é extremamente importante estabelecer políticas de tolerância zero para qualquer tipo de discriminação, criando canais de denúncia e acolhimento aos colaboradores, como a criação de grupos de afinidade, por exemplo.
  5. Metas e indicadores de desigualdade: um dos passos que também pode ser adotado é realizar uma análise crítica das políticas e práticas da empresa e implementar mudanças para garantir que todos os colaboradores tenham as mesmas oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Com a implementação, estabelecer uma forma de monitoramento é essencial para acompanhar o progresso e correções de rota durante esse caminho.

A Blend Edu é uma startup com foco em inovação para diversidade e atuamos por meio de diversos pilares, desde projetos de diagnóstico e consultoria estratégia, treinamentos e ações de conscientização e letramento para despertar um comportamento mais empático e inclusivo na equipe.

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