Em janeiro de 2020, David Solomon, CEO da Goldman Sachs, afirmou no Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos:
“A Goldman Sachs não irá participar do IPO de empresas que não tenham, pelo menos, um membro do conselho com perfil diverso.”
Mas por qual motivo um líder de um grupo financeiro multinacional faria essa declaração?
Diversidade e inclusão é um assunto cada vez mais obrigatório dentro das organizações. Esse movimento vem acontecendo por uma série de fatores, desde a valorização de mudanças na sociedade ao avanço da tecnologia e criação de novas leis de inclusão – consequência das lutas dos movimentos LGBT, racial, de PCDs, entre outros.
As empresas acompanharam essas transformações e passaram a compreender que é uma tendência sem volta. Cada vez mais, os líderes estão conectando o tema de Diversidade e Inclusão (D&I) com sua cultura e estratégia de negócio. Que tal compreender quais pesquisas e dados evidenciam essas afirmações?
Confere esse artigo para entender como a diversidade nas empresas é um fator crítico de sucesso.
Diversidade nas empresas: um imperativo moral
- Mulheres negras ocupam menos de 1% dos cargos de alta liderança nas empresas (IBGE, 2018)
- As mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada, que inclui trabalho doméstico e remunerado (Ipea, 2015)
- 20,5% é a média que os homens ganham a mais que as mulheres, no mercado de trabalho. (IBGE, 2018)
- A diferença salarial entre profissionais brancos e negros no Brasil é 45% (Pnad, 2019)
- No mercado de trabalho formal, pessoas com deficiência representam apenas 1% do total de carteiras assinadas no Brasil (Rais, 2016).
- 35% de profissionais LGBT já sofreram discriminação no ambiente de trabalho (LinkedIn, 2019)
Esses dados revelam o nível de desigualdade no mercado e mostram a necessidade de migrarmos para um olhar cada vez mais interseccional em relação à diversidade, capaz de dar conta das várias relações entre raça, gênero, idade, deficiências e identidades que se estabelecem na sociedade e, consequentemente, nos ambientes de trabalho.
As novas relações de trabalho introduzidas pela pandemia de COVID-19 deste ano reforçam a importância da diversidade como área estratégica dos negócios, trazendo soluções para a criação e manutenção de uma cultura organizacional inclusiva, gerando engajamento e sentimento de pertencimento de seus diferentes públicos, funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, para que as empresas consigam trazer resultados financeiros e solucionar problemas complexos. Esses são os novos desafios que a diversidade enfrentará daqui para frente, em uma sociedade cada vez mais digital e conectada, ao mesmo tempo, distante em termos físicos e desigual em oportunidades.
Diversidade nas empresas = melhores resultados
Apostar e investir em diversidade não é apenas uma questão social; as organizações crescem, avançam e alcançam melhores resultados. Dados do relatório Diversity Matters, publicado em 2015 pela consultoria McKinsey Company, indicam que organizações que consideram a diversidade no recrutamento entregam resultados 25% melhores do que organizações “não-diversas”. Empresas com diversidade de gênero são 15% mais propensas a terem performance superior e naquelas que há promoção de diversidade étnica, o número sobe para 35%.
Ou seja, aumentar a diversidade nas empresas e no mercado de trabalho, tendo um quadro com pessoas de perfis dos mais variados é uma forma de reduzir as desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, estimular empresas mais produtivas e eficientes.
Já existem inúmeros estudos que comprovam como o compromisso com a diversidade garante à empresa o fortalecimento de seus valores organizacionais e sociais, além de evidenciar que um ambiente inclusivo é mais saudável e propício à inovação.
Com isso, a cada dia, fica mais claro como a diversidade a diversidade nas empresas possibilita que elas:
Consigam atrair e reter mais talentos:
“Pensamentos diferentes, experiências diversas, visões completas, trazem crescimento ao time, à empresa e ao produto/serviço oferecidos.” Essa é uma das respostas coletadas pela pesquisa Quem Coda o Brasil, realizada pela iniciativa PretaLab e pela consultoria de tecnologia Thoughtworks, em 2019. Ao analisar se a diversidade em uma equipe traz impactos positivos ao resultado do seu trabalho, 87% dos respondentes afirmaram que sim.
De acordo com mapeamento da Catalyst, as empresas com níveis mais altos de diversidade de gênero e com políticas e práticas de RH voltadas para este tema possuem níveis mais baixos de rotatividade de funcionários.
Um ambiente inclusivo também é extremamente importante para pessoas negras, que, de acordo com os dados da Catalyst, normalmente consideram deixar suas organizações se perceberem a desigualdade salarial e uma clima organizacional pouco inclusivo.
Reduzem conflitos:
De acordo com uma pesquisa da empresa de consultoria Hay Group, onde a diversidade é reconhecida e praticada, a existência de conflitos chega a ser 50% menor que nas demais organizações. Quando são exploradas diferentes vivências, experiências e perspectivas, os conflitos são reduzidos e as soluções aparecem mais facilmente.
Sejam mais efetivas no processo de transformação digital
Não é porque um produto ou um processo é tecnológico e digital que ele é automaticamente neutro e livre de vieses. Universidade Stanford e do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), por exemplo, mostraram que softwares de reconhecimento facial tem uma taxa de erro de 0,8% (no máximo) para homens brancos, mas com mulheres negras, as taxas de erro chegaram ser de 34%.
Não é à toa que várias gigantes de tecnologia estão investindo em formas de reduzir os vieses nos seus produtos e serviços.
Nesse webinar promovida pela Revista HSM Management, Thalita Gelenske, fundadora e CEO da Blend Edu, reforça a conexão entre diversidade e o pensamento digital, assim como o olhar empático para potencializar os resultados das organizações e apresentar caminhos para resolver problemas cada vez mais complexos.
Potencializem a colaboração e inovação:
Não é possível mais falarmos de inovação sem diversidade. Um ambiente inclusivo e diverso possibilita inovação e a aproximação entre os colaboradores.
De acordo com os dados da Hay Group, funcionários de empresas que praticam a diversidade são 17% mais engajados, e 75% deles reconhecem que há espaço para inovar no trabalho.
Já segundo o estudo Rumo à inclusão 2019: Criando uma cultura que estimula a inovação realizado pela Accenture, empresas inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras e seus funcionários são 6 vezes mais criativos do que as que não possuem cultura inclusiva. A lógica por trás desse dado é: mais diversidade nos times traz novos pontos de vista e assim, novas soluções para dores que talvez nunca tivessem sido notadas.
Se conectem com os seus clientes:
“Se não me vejo, não compro”. Essa frase tem se tornado cada vez mais presente entre os movimentos sociais e grupos minorizados.
No entanto, as campanhas e estratégia de vendas ainda são excludentes. O Instituto Locomotiva analisou que 72% dos consumidores negros consideram que as pessoas que aparecem nas propagandas são muito diferentes deles e 82% gostariam de ser mais ouvidos pelas empresas. A agência Heads também mostrou que 65% das mulheres não se sentem representadas na propaganda.
É claro que essa falta de representatividade impacta os resultados que as empresas e as marcas poderiam obter de forma bem tangível:
- Mulheres (que representam 52% da população brasileira) são responsáveis pelas decisões de compra em 61% dos lares no país;
- A população negra no Brasil (cerca de 54% da população brasileira) é responsável por movimentar R$ 1,7 trilhões por ano (o que é chamado de black money) de acordo com o Instituto Locomotiva;
- Pessoas com deficiência no Brasil gastam cerca de R$ 5,5 bilhões por ano apenas com serviços e tecnologias para melhorar a qualidade de vida;
- A comunidade LGBTI brasileira movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano.
Essa também é uma preocupação entre as gerações mais jovens. De acordo com estudo da McKinsey, a geração Z afirma que irá deixa de comprar de marcas e divulgar empresas cuja campanhas são consideradas machistas (81%), racistas (79%) e homofóbicas (76%).
Ou seja, se, por um lado, a pesquisa da Harvard Business Review aponta que empresas mais diversas aumentam em até 152% as chances de compreender o cliente, esse benefício será perdido se a empresa não garantir que a representatividade chega na sua estratégia de produto, vendas, marketing, inovação, tecnologia e negócio.
Fortaleçam sua imagem e valores institucionais:
Promover a valorização da diversidade internamente reflete a preocupação da organização no respeito às diferenças e na construção de uma cultura organizacional acolhedora, coletiva e humanizada. A resistência às mudanças e novos pontos de vista pode comprometer a imagem da empresa frente aos consumidores, concorrentes e população no geral.
Cada vez mais as empresas abraçam a bandeira da diversidade na publicidade. Por outro lado, como mostra uma pesquisa de 2018 realizada pela consultoria de marketing Croma, dos 1.814 entrevistados, 72% não acreditam na autenticidade das marcas quando falam sobre o tema. Ou seja, o fortalecimento da imagem com a pauta de diversidade precisa vir acompanhada de um propósito real e, principalmente, ações efetivas.
Saiba mais: Quer como saber como construir ações efetivas? Leia o artigo: “5 motivos porque as estratégias de diversidade falham”, na Revista HSM Management.
Criação de parcerias institucionais e geração de negócios:
Ser uma organização reconhecida por promover a diversidade aumenta consideravelmente as chances de gerar mais negócios, fechar parcerias e atrair mais clientes. Inclusive, esse é o principal fator apontado pelas grandes empresas para aumentar o investimento em diversidade, segundo a pesquisa, A diversidade e a inclusão nas organizações no Brasil, realizada pela Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), com 124 empresas que, juntas, faturam R$ 1 trilhão e empregam aproximadamente 850.000 funcionários.
Aumentem seu retorno financeiro e sua lucratividade
As empresas que investem em diversidade racial e étnica têm 35% mais chances de obter retornos financeiros acima de suas respectivas medianas da indústria nacional. Isso é o que aponta, ainda, o relatório Diversity Matters, de 2015.
Segundo estudo realizado pela Ernst & Young, que mapeou o panorama global da liderança em vários aspectos (diversidade, transformação digital, propósito, cultura, entre outros) a partir de dados de 2,4 mil empresas de 54 países, a diversidade impulsiona diretamente o resultado das empresas. Empresas que apresentaram mais de 30% de diversidade de gênero em cargos de liderança apresentaram melhores resultados financeiros na comparação com as demais.
De acordo com o relatório Mulheres na gestão empresarial: argumentos para uma mudança, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), resultado de uma pesquisa realizada em 2019 com 13 mil empresas de 70 países, inclusive o Brasil, mais de 75% das companhias entrevistadas afirmam que iniciativas em favor da diversidade de gênero contribuem para melhor o rendimento nos negócios. Quase três entre quatro empresas que promovem diversidade de gênero em cargos de direção dizem ter obtido aumento de 5% a 20% nos lucros.
Os números falam por si.
Falar de diversidade vai muito além de práticas de contratação, mas da criação de uma cultura organizacional inclusiva. Para ela acontecer, precisa vir acompanhada de programas estruturados, indicadores, treinamentos, experiências educacionais e de sensibilização para toda a empresa, promovendo uma mudança de mindset e transformações reais nos valores, comportamentos, rituais, símbolos e no ambiente físico da cultura e dos líderes.
Olhar cross para a diversidade
Normalmente, as empresas encaram a gestão de diversidade restrita à área de Recursos Humanos. como se as questões de Diversidade & Inclusão fossem responsabilidade apenas de um único departamento, e essa é com certeza uma grande trava para o avanço desse tema dentro das organizações, em termos de performance financeira e gestão de imagem reputacional.
A estratégia de diversidade nas organizações deve permear vários times, de forma cross, para que reflita em mudanças estruturais e ações estratégicas do negócio. Da atuação de Marketing e Branding, às áreas administrativas e de negócios, o plano de Diversidade & Inclusão deve ser prioridade de toda gestão para promover mudanças no âmbito organizacional e reverter em diferencial estratégico no mercado.
Como trabalhar a cultura de diversidade na sua empresa?
Antes de responder, podemos analisar o panorama dos programas de diversidade no Brasil. Em Abril de 2020, a Blend Edu realizou o primeiro benchmarking do Brasil para mapear o “Panorama das Estratégias de Diversidade no Brasil e os Impactos da COVID-19”.
Nele, observamos que mais de 60% das empresas possuem seus objetivos do programa de diversidade associados à criação de cultura inclusiva e gestão de talentos, seguidos pelo impacto no resultado do negócio.
As 4 dimensões mais trabalhadas dentro dos programas de diversidade são “Gênero”, “Pessoas com Deficiência”, “Raça/etnia” e “LGBTI” respectivamente. Veja abaixo os 10 tipos de ações mais recorrentes nos programas de diversidade:
Veja todos os insights no relatório completo do benchmarking, que pode ser baixado pelo link aqui.
A nossa startup atua em diferentes etapas dos processos, lhe apoiando a construir uma cultura de diversidade e inclusão. Realizamos diagnósticos e consultoria, seja para lhe apoiar no desenho da sua estratégia de diversidade, da jornada do colaborador (de forma inclusiva) ou criação de grupos de afinidade.
Também somos experts no desenho de ações educacionais de alto impacto para seus colaboradores e líderes, inclusive em formato digital, como é o caso da comunidade de aprendizagem virtual Diversidade SA. Conte com a nossa equipe e entre em contato pelo formulário do nosso site ou pelo e-mail contato@blend-edu.com.